silêncio de pedra

silêncio de uma cólera
depois o amor
em mil fragmentos
dinamismos
de pedras despedaçadas.
eva

repete a dose
infame
morre em mim
mais uma vez
eu não nasço
e nem morro
mediando o processo
encontro
traumas perdidos
orgulho ferido
e mexo
numa parte profunda
que ainda desconheço

malícia e desejo
dois significados
dois pesos involuntários
nas minhas costas
de Eva
descobrindo
o paraíso.
fratura no dia de começo de semana encena lamento e
entrega riso
nunca mais fala coisa alguma que fere
planeja que a sexta te anuncia vazios
esperança tremenda que a tarde siga soprando outras coisas até o silêncio estabelecido da noite e depois manhã de águas.
escândalo. vermelho. histeria. casa escura. plantas verde escuro. musgo. às três da manhã sinto muito medo. casa calma. barulho dos carros passando. os carros passam nos meus sonhos? a natureza me queima. o mistério das plantas promete e cumpre.
Desenrolava-se do vestido, caoticamente, a manhã ainda iniciava. Tudo grudado, água e sangue, o que se tem dentro de cada pessoa. A lembrança viva corroía. Fragmentava-se.
Golpes que duram mais que mil noites (ou uma vida) para curar.
recortes

da janela os olhos somem
as ruas mal iluminadas me chamam para o perigo
o som das jukeboxes animam mais
que um show cover miado de bandas de rock ultrapassadas
o mundo tem um roteiro secreto
participo mal
os símbolos não estão à toa pairando sobre as paisagens cotidianas
discos, feriados, cidades, dias, momentos, o agora
há fogo nas roupas das pessoas que me cercam
há defeitos maravilhosos no seu rosto, bem de perto
essa noite felina nos arrebentará, como todos os finais que mal terminam
antes mesmo de começar
o teu incômodo é puro e é bom
me faço esquecer a pressa das ruas
há sonolência e calma nos teus olhos
há milhares de justificativas no meu fracasso e meus olhos são baixos
não vejo ou sinto mais do que você que me escuta agora e que não me entende
estou entre a mesma força que não é, uma força igual, mas que nunca será a mesma.
sobre imagens distorcidas

se eu disser o que foram os meus tremores destruo tudo
na simbologia das convenções, não convenço
a imortalidade é que me aflige
e sou feroz e cruel, sendo boazinha e suave demais

a minha causa ele não comprou, então risquei
seu nome dos meus cadernos, reinventei destinatário
sem carta para chegar não houve perigo

por sobre a vidraça estilhaçada
lancei o mesmo olhar rancoroso, ofendido
de outro espelho quebrado
contabilizei com este mais sete anos demorados de azar

não lavei o vestido que usei no último encontro
espero agora que sua imagem sobre mim se distorça
vestidos floridos, anéis, colares, brincos
constrangimentos, falas nojentas, olhares, perigos cotidianos

diga o contrário do que eles sempre me dizem
porque tenho a esperança de que a tua malícia em mim
seja apenas glória e nunca peso.
ode a tríade: juventude, tempo, morte

na velha cidade só há fantasmas
todos os beijos serão devolvidos

a mesma angústia foi sentida
os discos serão ouvidos novamente
agora sobre outra perspectiva

troquei de calçada quando te avistei
vindo em direção oposta
nunca mais descruzo caminhos

abaixei a cabeça quando me disseram
você não é isso aí
da próxima vez grito e não deixo
que existam próximas vezes para dizer o que penso
centelha imediata

a chance que eu tinha foi desperdiçada
apelo para o nunca mais e me faço esquecer

me desculpei sem parar na última vez em que falei com você
queria ter falado outra coisa
tentado um beijo, talvez

você disse que odiava o calor quando eu reclamei que suava muito
os ventos não uivam aqui, sinto muito dizer

a juventude me esmaga
tento a tática inversa

tudo que eu nunca te disse
olha bem nos meus olhos

nenhuma festa virá para nos salvar
o tédio é outra coisa

me lembro de um tempo, de uma certa paisagem
espera que eu te sirvo um suco gelado

hoje é sábado, olha essa jukebox
esse é o nosso bar de sempre

não consigo dormir
meus pesadelos me fazem acordar
sinto calafrios

as coisas passam depressa demais, eu tenho medo de perder
as pessoas que eu gosto
a consciência da finitude do tempo é terrível

me fere quando você quiser
que eu já não sinto quase nada

mas o engraçado é que ainda me atrevo muito
ser jovem é desistir seguidas vezes

acho que nunca desisto
a imprecisão é cura

no último ano eu voltei para casa chorando quase todos os dias
estamos numa nova vida

onde seus olhos estão?
os meus estão bem perto e te buscam.
desdobramentos em ser mulher
pedidos de desculpas
você sabe porque pede desculpas?
essa cidade já foi mais respirável
há pessoas boas por conhecer
mas os olhos se fecham rápidos
quem falou toda a noite?
quem esteve em silêncio toda a noite?
primeiro não sinto que pertenço ao seu lugar
depois não sinto mais estar em lugar algum
perco de vista pontos de referência
desaba a noite prometida
os pensamentos acelerados
eu sei falar sobre a minha arte
eu sei falar sobre a minha música
eu sei falar sobre a minha escrita
não preciso de porta voz
diz enquanto atravessa vacilante a rua
no caminho para casa chora
como tantas vezes
desdobramentos em ser mulher
e a conclusão da noite:
homens só precisam ser homens para
serem bons.
há muito sangue, choro,
desânimo. cresce sobre as
piores orientações de
coincidências, desastres
dentro e fora de casa.
acredita no fio da esperança
que corta o mal. depois o mal
cresce rápido demais sem que
o fio perceba e o atinja.
tudo desaba, nada sustenta.
boca que abre e escandaliza,
deslize de palavras tão
conhecidas mas nunca praticadas.
a essência de complexidade
intensifica tudo que aperta por
dentro. cria uma camada de
pele feita de cicatrizes e não
esquece do que cada uma
representa.
o perigo me ronda todos os dias.
Espaços vazios. Fragilidade para quem fica, falta para quem vai. Nada consome mais do que essas inúmeras idas e vindas do trecho. Partes o interior. Crava os pés incertos. Já deixei de sentir minhas mãos ou esqueci.
Vida covardia. Vida desaparecendo.

Mais um táxi para as lembranças fundas de saudade.
coincidências
na manhã escura
como a noite anterior
quase choro, quase glória
nas paredes rachadas
no café amargo
há uma canção que corta
para nove anos atrás
quando é viver
quando é morrer
aos poucos
deixando o rastro incerto
e a dúvida encontrada

sou outra
mas volto sempre
ao que me pertence


arrepio na curva.
tudo em vermelho
tempos de angústia
fraturas do coração feito de pedra bruta
mancho de vermelho os lençóis
me pergunto o que virá depois
o sofrimento é um tempo
me adianto
meu quarto com pinturas vermelhas
parece simbolizar finalmente
o que carrego por dentro

mas me pergunto
quando poderei respirar?